DOE

Marcela Temer e o suposto “primeiro damismo” do programa “Criança Feliz”

Desde a polêmica do “bela, recatada e do lar”, ficou claro que qualquer coisa que envolvesse o nome da atual primeira-dama, Marcela Temer, seria motivo de polêmica. Mesmo sendo uma mulher discreta, desde que Michel Temer chegou à presidência devido ao impeachment de Dilma Rousseff, Marcela não consegue mais passar em branco.

Não pretendo fazer uma análise da figura da primeira-dama, visto que não acredito que seja alguém tão relevante no atual cenário político do país. Mas acredito que são os próprios críticos que estão colocando a figura de Marcela em evidência, tal qual aconteceu na polêmica do “bela, recatada e do lar”. Afinal, quem saberia que aquela matéria foi realizada se algumas feministas não tivessem resolvido fazer aquele protesto virtual usando o título da matéria como hashtag? Meu ponto neste artigo é o programa “Criança Feliz”, que possui Marcela Temer como embaixadora voluntária.

Em fevereiro de 2016, a Rede Nacional Primeira Infância enviou uma carta para a então presidente Dilma Rousseff solicitando que o Marco Legal da Primeira Infância fosse sancionado integralmente, trazendo uma série de mudanças nas políticas públicas voltadas para crianças de até seis anos de idade. No dia 8 de março, o marco foi sancionado por Dilma, tornando-se a Lei 13.257. Creio que a ex-presidente não teve tempo para desenvolver um programa específico que atendesse aos requisitos da nova lei, visto que, no dia 17 de abril, a Câmara dos Deputados aprovou o prosseguimento do processo de impeachment e pouco depois a então presidente foi afastada do cargo.

Quando Michel assumiu a presidência, ainda de forma provisória, a mídia mencionou que Marcela assumiria “funções sociais” caso o impeachment fosse confirmado. Isso gerou reclamações nas redes sociais sobre o “primeiro damismo” (escalar primeiras-damas para assumir secretarias sociais, ações sociais, filantropia e/ou caridade) e o grande retrocesso que isso seria para a política de assistência social, hoje entendida como “direito”. No último dia 5 de setembro, a primeira-dama fez seu primeiro discurso para anunciar a criação do programa “Criança Feliz”, sem deixar claro o que especificamente seria o programa, mas nada que uma rápida consulta ao site do Ministério de Desenvolvimento Social e Agrário não resolva.

O programa “Criança Feliz” foi criado nos moldes do Marco Legal da Primeira Infância sancionado por Dilma, tanto em seus objetivos (“promoção do desenvolvimento humano a partir do apoio e acompanhamento do desenvolvimento infantil integral”) quanto em seu público alvo (crianças de até seis anos de idade, gestantes e famílias). Por ser novo, ainda não é possível realizar uma análise mais profunda sobre o mesmo – visto que foi literalmente uma canetada que ainda não saiu do papel – mas não é o que vem acontecendo. Surgiram inúmeras críticas ao suposto retrocesso do programa, uma “volta ao conservadorismo” e às “práticas higienistas” e, principalmente, críticas ao envolvimento da primeira-dama no programa.

O que os críticos (geralmente defensores ferrenhos do Partido dos Trabalhadores) esquecem é que Marcela dificilmente tem ou terá algum envolvimento direto com o desenvolvimento do programa. Sua função é ser “embaixadora”, ou seja, no máximo aparecer em alguns eventos e fazer marketing em favor do mesmo. Como as informações sobre como de fato será o programa são poucas, é perfeitamente possível inferir que o “Criança Feliz” pode ter sido desenhado na gestão da ex-presidente em consonância com o novo Marco Legal da Primeira Infância.

Se o programa tivesse sido criado pela gestão petista e Dilma em pessoa estivesse promovendo-o programa pelo país, haveria toda essa revolta? Obviamente não. O problema é ser um programa do “governo golpista”, logo, mesmo estando em plena conformidade com a legislação sancionada por Dilma, é visto pela militância como um grande retrocesso, absurdo e revoltante.

É inclusive contraditório ser tão crítico do “Criança Feliz” e ao mesmo tempo ser ferrenho defensor do “Bolsa Família”, que teve envolvimento direito da ex-primeira-dama tucana, Ruth Cardoso. Ao contrário de Marcela, que atuará apenas no marketing do programa, Ruth se envolveu diretamente na gestão do antigo “Bolsa Escola”, embrião do que hoje é o principal programa de transferência de renda do país.

O “Bolsa Família” é defendido pela militância porque foi um projeto de Lula que unificou os programas de transferência de renda da época de FHC. Enquanto o simples envolvimento da atual primeira-dama para divulgação do “Criança Feliz” é enxergado como grave retrocesso, mas, ignora-se que outra primeira-dama foi diretamente responsável pela gestão do embrião do programa social que Lula e o PT apropriaram.

Cabe lembrar que os programas de transferência de renda possuem raízes liberais, especialmente em Milton Friedman. E pela lógica da militância petista, essa influência tornaria Lula e demais membros do PT representantes do “neoliberalismo imperialista explorador”.

Compartilhe nas redes sociais:

Mais Recentes

Ribeirão Preto se torna o município com mais Liberdade para Trabalhar no Sudeste com apoio do ILISP
A cidade de Ribeirão Preto, no...
Jaboatão dos Guararapes se torna a cidade com mais Liberdade para Trabalhar do Brasil com apoio do ILISP
No dia 13 de novembro de...
Presidente do ILISP conversa com governador de Goiás para aumentar Liberdade para Trabalhar no estado
O presidente do ILISP Marcelo Faria...
Projeto do ILISP é considerado um dos 6 melhores do mundo e concorrerá a prêmio mundial
O projeto Liberdade para Trabalhar do...
Estado do Paraná regula Lei de Liberdade Econômica com apoio do ILISP
O governador Carlos Massa Ratinho Junior...
Bagé-RS recebe prêmio como município com mais Liberdade para Trabalhar no Brasil
A cidade de Bagé, no Rio...