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Quase fui morto por alguém armado e mesmo assim sou contra o desarmamento

Diante da barbárie que toma conta da região metropolitana de Vitória – onde fui criado – com uma onda de roubos, assaltos, saques e assassinatos decorrentes da paralisação dos policiais militares, venho compartilhar meu caso pessoal para mostrar que não podemos deixar que nossas experiências e emoções particulares estejam acima dos princípios básicos da liberdade.

Tive experiências reais com armas de fogo. Quando tinha treze anos de idade, meu pai mostrou-me onde guardava sua arma, ensinou-me a atirar e disse que, na ausência dele, eu deveria proteger a família. Doze anos depois, ele tentou me matar com a mesma arma.

Obviamente que uma experiência como essa alimenta, na maioria das pessoas, grande rejeição às armas, mas reflexões mais profundas te fazem entender que armas não têm vontade própria, não disparam sozinhas. Assim como todos que passaram por experiências semelhantes ou piores, fui vítima dos desvios de caráter ou das instabilidades emocionais de seres humanos. O mal que quase tirou minha vida não estava na arma, mas em meu pai.

O resultado dessa e de outras experiências pessoais moldaram minha rejeição ao porte de armas até três anos atrás, mas não foram as publicações que defendem o porte de arma que me fizeram mudar de opinião, mas minhas próprias reflexões feitas a partir do argumento em favor da legalização da maconha.

Nunca fumei, mas sempre defendi a liberdade de fumar por enxergar que a grande maioria das pessoas não cai em desgraça por fumar maconha. Os casos que chegam aos ambulatórios representam uma mínima parcela desses fumantes, assim como os casos de obesidade mórbida representam uma mínima parcela dos consumidores de bacon.

Mesmo que todos os males da maconha fossem comprovados, ainda assim deve ser um direito de cada indivíduo prejudicar a si mesmo sem a violência do tráfico de drogas, gerada graças à marginalidade criada pelo próprio estado.

A pergunta que fiz a mim mesmo foi: se compreendo o princípio da liberdade, que envolve o direito de uma pessoa adulta se drogar, como posso rejeitar o direito de alguém portar uma arma para proteger a vida de sua família, a sua própria vida ou mesmo sua casa e empresa? Não posso. Ninguém pode.

Ironicamente, descobri no argumento de que o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo não estimula heterossexuais a se tornarem homossexuais o argumento perfeito para defender que as pessoas tenham o direito de autodefesa. Afinal, pela mesma lógica, nenhuma pessoa pacífica se transforma num assassino pelo simples fato de ter uma arma dentro de casa – assim como nenhum assassino deixa de matar alguém por causa de alguma lei.

Esse argumento despertou-me para outro: pessoas que praticam artes marciais têm condições de agredir outras com muito mais facilidade e gravidade, mas isso não quer dizer que as pessoas que praticam artes marciais sejam mais agressivas do que as que não praticam. Na verdade, grande parte dessas pessoas as utiliza como recurso de autodefesa.

A esquerda, quando convém, utiliza o sucesso de políticas americanas como a legalização da produção, da venda e do consumo da maconha em alguns estados que reduziu os índices de criminalidade, os casos de internação por overdose e incrementou pequenos negócios que vem financiando benfeitorias públicas. Entretanto, a mesma esquerda ignora demagogicamente que os índices de assassinatos nos Estados Unidos – um país com uma arma por habitante – são muito menores do que os do Brasil, que muitos crimes não são cometidos nos Estados Unidos justamente porque os criminosos pressupõem que a vítima esteja armada e que muitos dos assassinatos em série que estampam as capas dos jornais são interrompidos por pessoas armadas.

A rejeição ao porte de armas tem o mesmo fundamento do medo de tubarão. As mesmas pessoas que dão faniquitos quando, nos Estados Unidos, um maluco mata meia dúzia de inocentes com uma arma comprada legalmente ignoram as milhares de pessoas que são esfaqueadas ou mortas de mil outras maneiras; as mesmas pessoas que ficam aterrorizadas diante das notícias de meia dúzia de ataques de tubarão a cada ano no mundo ignoram que todos os anos dezenas de pessoas são mortas por hipopótamos, que centenas de pessoas são mortas por cobras, que milhões são mortas por mosquitos. As mesmas pessoas que dizem que a simples presença de armas na casa das pessoas potencializa acidentes com crianças ignoram que um número muito maior morre sufocada nos berços onde dormem, morre intoxicada por remédios ou por afogamento nas piscinas de suas próprias casas.

Continuo não desejando ter uma arma, mas hoje defendo que qualquer pessoa possa ter a sua. Acredito que o argumento ideal não seja a suposta redução da violência, afinal, isso depende de muitas outras ações. O argumento irrefutável é o fundamental direito de autodefesa. Isso basta.

Toda pessoa que defende o princípio da liberdade para uma coisa tem o dever de defender o mesmo princípio para todas as outras coisas. O socialista que defende que as pessoas possam fazer o que quiserem com seus próprios corpos deveria defender também o direito de cada pessoa zelar por sua vida, da mesma forma que a pessoa que defende a liberdade de portar uma arma deveria aceitar que todas as pessoas tenham liberdade para se drogar e para se relacionar intimamente com quaisquer outras pessoas.

Sendo o estado incapaz de antecipar-se aos desvios comportamentais de todos os seres humanos, de estar em todos lugares ao mesmo tempo e de saber lidar de forma eficiente com todas as situações, nada mais justo e coerente do que as pessoas terem a liberdade para salvaguardar suas próprias vidas.

A verdade é simples: nenhuma lei impedirá que pessoas matem pessoas, que se droguem ou que tenham relações homoafetivas.

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