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Desculpe o transtorno, preciso falar sobre Lula

O Brasil o conheceu já no palanque. E isso não teve nada de romântico. Mesmo tendo trabalhado poucos meses como metalúrgico, Lula foi alçado à presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e conduziu greves como a de 1979 (que gerou a conhecida foto de Lula falando em um estádio lotado) e a de 1980 (com outra foto conhecida, a de Lula passeando no banco traseiro de um carro do regime militar para ficar “preso” com direito a cachaça e cigarros). Vislumbrando o potencial político do movimento sindical, Lula se juntou a sindicalistas, “intelectuais”, representantes de “movimentos sociais” e católicos militantes da Teologia da Libertação para formar o Partido dos Trabalhadores no mesmo ano de 1980. Eu não estava lá, mas aposto que a música era “Acorda Amor”, de Chico Buarque, aquela com o refrão “chame o ladrão”. Não chorei, mas alguns podem dizer que fizeram parte do grupo dos “choramos”.

Quando houve eleições para o governo de São Paulo em 1982, ele disputou e perdeu. Quando houve a campanha Diretas Já – resultando em nada, dado que o regime militar fez uma eleição indireta em 1984 – Lula estava em campanha ao lado de seu eterno falso inimigo, Fernando Henrique Cardoso. Quando Tancredo Neves foi eleito no Colégio Eleitoral, Lula e o PT se abstiveram de participar da eleição. Quando Tancredo morreu antes de sua posse e José Sarney assumiu, Lula e seus “companheiros” se declararam independentes, mas foram os primeiros a apoiar o congelamento de preços de 1987 (conhecido como “Plano Bresser”, por ter sido inventado pelo “desenvolvimentista” Luiz Carlos Bresser Pereira, que incrivelmente ainda é levado a sério até hoje) que levou milhões de brasileiros, incluindo os meus pais, a se tornarem contrabandistas de comida da noite pro dia. Em 1989, Lula perdeu novamente, nas primeiras eleições diretas para presidente após 1964, para Fernando Collor, mesmo com Lula contando com o apoio do PSDB no segundo turno das eleições. O PT era um desastre em sua primeira década.

 

Como não havia ICQ, MSN, Orkut, Facebook, SMS ou Whatsapp, Lula e o PT resolveram criar o Foro de São Paulo em 1990 para passar dias tramando como a esquerda poderia chegar ao poder em toda a América Latina. A hiperinflação criada pela impressão desenfreada de dinheiro feita pelos governos militares e que chegou a 2400% ao ano em 1993 só foi combatida e reduzida de verdade pelo Plano Real, iniciado em 27 de fevereiro de 1994, que Lula e o PT também não apoiaram. O sucesso do plano levou o amigo de Lula e então Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, ao poder nas eleições do mesmo ano, derrotando o próprio Lula no primeiro turno.

O Brasil começou a namorar um sopro de liberdade e estabilidade econômica e parecia que as coisas iriam melhorar a partir dali. A comida não subia mais de preço todos os dias e as maquininhas remarcadoras foram sendo cada vez sendo menos usadas. Agora era possível guardar dinheiro e planejar fazer várias receitas de risoto, comprar panelas novas depois de queimar as antigas, comprar móveis sem precisar sair correndo para o banco para sacar dinheiro no mesmo dia em que recebia o salário, assistir peças de teatro e filmes que não custariam o dobro do preço daqui um mês. Fizemos até alguns avanços tirando um pouco de poder do estado por meio das privatizações, permitindo que as pessoas tivessem telefones fixos com maior concorrência, sem precisar passá-los como herança para os filhos, e reduzindo a possibilidade dos governadores cometerem fraudes fiscais (que em um futuro não muito distante seriam conhecidas como “pedaladas”) usando bancos públicos estaduais. Obviamente que, tendo socialistas fabianos no poder, também tivemos criação e aumento de impostos (como a CMPF) e sofremos com as crises da Ásia (1997) e da Rússia (1998).

Aprendemos o que era globalização e apelidamos o presidente de Viajando Henrique Cardoso por motivos óbvios. Mesmo com crise de 1998 e o aumento do poder dos amigos haters do PT, FHC foi reeleito para mais um mandato, novamente no primeiro turno, após o governo mostrar uma estranha sinfonia de articulação para aprovar a reeleição. O câmbio fixo mantido artificialmente foi extinto e aprendemos o que era câmbio flutuante, briga de economistas para dizer qual o “valor ideal” do câmbio, interferência da FIESP para manter a moeda sempre valorizada para “proteger a indústria nacional”, duplicação da dívida pública graças à nacionalização das dívidas dos estados da federação e, para pagar a “festa” toda, aumento dos juros e desemprego.

E então surgiu “Lulinha paz e amor”. Sem discursos radicais, usando terno, com a barba aparada, tendo um empresário como vice-presidente e fazendo uma carta que não começava com latim, mas que dizia que não iria transformar o Brasil numa nova Cuba, Lula foi finalmente eleito presidente do Brasil contra o (ainda mais socialista) José Serra. Foi amor à primeira vista para a mídia, os “intelectuais” e boa parte do país que acreditou que ter um “metalúrgico” no poder significaria uma melhor qualidade de vida para os mais pobres. Eu estava lá mas não era Albert Einstein, era apenas um incrédulo com as promessas do novo presidente.

Mantendo a política econômica de FHC em seu primeiro mandato e aproveitando parte das ideias dos apoiadores do mandato anterior – como o Bolsa Família, uma junção dos programas sociais de FHC sugerida pelo então governador de Goiás, Marconi Perillo, do PSDB – Lula aproveitou um tempo de bonança internacional para aumentar seu poder político e eleitoral, bem como sua imagem messiânica, sobretudo junto aos mais pobres. Mas isso não aconteceu sem um preço. Apaixonado com o poder, o PT de Lula acreditou em namoros arranjados (e bem pagos com o dinheiro dos pagadores de impostos) com parlamentares para tratorar a democracia e instituir o Mensalão, um sistema de poliamor onde somente o povo era o… prejudicado. Mesmo assim, e com a ajuda do seu falso inimigo FHC, Lula permaneceu no poder e foi reeleito em 2006.

Aí foi que o barraco desabou, nessa que nosso barco se perdeu. Com a carta branca das urnas, que o reelegeram mesmo após o poliamor mensaleiro estampar até as capas das Caras, Lula transformou o esquema em um amplo bacanal, incluindo 15 partidos em seu governo, ampla distribuição de cargos, 37 ministérios e batons na cueca que não saíram nem com Vanish e que, como traídos que fomos, descobrimos (e ainda estamos descobrindo) somente anos depois. Para ajudar, com o estouro da crise de 2008 – criada pelo estado americano e não pelo “capitalismo malvadão” ou pela “desregulamentação do mercado financeiro”, como aqueles que nutrem um amor platônico pelo socialismo querem fazer crer – Lula jogou no lixo as bases econômicas do governo FHC e começou a encher a cara da economia com crédito farto, impressão de dinheiro desenfreada e bolsa cachaça premium via BNDES. E assim, felizes, já começando a enxergar dobrado e com direito a filme do “filho do Brasil”, o poste Dilma Rousseff se tornou a mais nova presidente por meio das urnas em 2010.

Dilma levou a bebedeira econômica a patamares que “nunca antes nesse país” se viu. O Brasil se tornou um imenso open bar de aumento dos gastos estatais com funcionários públicos e obras inacabadas, juros baixos para aumentar o consumo da população, farta distribuição de contas fiadas por meio do crédito farto dos bancos estatais, câmbio desvalorizado para aumentar exportações e aumento das tarifas de importação para proteger nossa bebedeira contra a realidade internacional. Para ajudar, a gerente do bar ainda decidiu romper o contrato de energia do botequim para “diminuir os preços” da energia (o que elevou os preços), liberou todos os amigos da gerente para colocarem a mão no dinheiro do caixa (da Petrobras) e decidiu que ia escolher os “campeões nacionais” do bar por meio da cachaça premium BNDES.

Como seria possível imaginar, os sóbrios investidores do bar não gostaram muito da farra. O dólar disparou e o governo aumentou o open bar de moeda, elevando a inflação. Entretanto, nossa economia, que a essa altura do campeonato já estava quase em coma alcoólico, não tinha mais como pagar a farra. O dinheiro da farra acabou. E agora, pensou a petista indicada por Lula para ser gerente do botequim chamado governo, o que fazer? Cortar a bebida às vésperas da eleição que definiria o gerente da festa pelos próximos quatro anos parecia uma péssima ideia, e foi assim que a discípula de Lula resolveu manter a dose, mas fraudando o pagamento das bebidas para manter o open bar funcionando até o final das eleições. Surgiram as “pedaladas”, a ideia de manter o pagamento dos empréstimos premium do BNDES e do Plano Safra (com apenas uma parte mínima sendo relacionada ao Bolsa Família) com dinheiro que simplesmente não existia, às custas dos bancos estatais financiados pelos pagadores de impostos.

A ideia funcionou. O open bar foi mantido e a gerente teoricamente garantiu o controle do bar por mais quatro anos. Mas foi aí que “Garçom” começou a tocar na vitrola e descobrimos que toda a bebedeira iniciada por Lula não passava de promessa de bar, aquele bilhete mentiroso dizendo “eu te amo” escrito num guardanapo cheirando a vodca às três da manhã. Terminou a bebida, o bar, o guardanapo e levaram até as toalhas das mesas. Milhões de brasileiros acordaram com aquela ressaca que apenas Sangue de Boi pode proporcionar. Choramos com mais desemprego, aumentos nos custos da energia elétrica e gasolina com preços que haviam sido represados, disparada da inflação, casos de corrupção sendo descobertos a rodo pela Lava Jato, enfim, com o fim do open bar. Fomos às ruas reclamar que a cachaça era batizada e que a gerente do bar enganou o país com uma fraude, e que por isso merecia ser demitida. Conseguimos e ela não vai fazer a menor falta. Somente os devotos da religião petista ainda querem levá-la ao poder. O vice-gerente do bar, um mordomo de filme de terror que não tem cara de que seja fã de open bar, assumiu o botequim. Veremos em breve se o problema dele é com o open bar ou apenas com a cachaça servida.

Esse ano, pela primeira vez, Lula começou a ser incomodado pelas trapaças e bebedeiras que seu governo fez. Não por acaso, “ganhou” como “pixuleco” um tríplex e um sítio em Atibaia (que não são dele), mesmo um dos locais tendo até pedalinhos com o nome dos netos e um estoque de bebidas digno de open bar, ao gosto do freguês. A Lava Jato chegou à vida do ex-presidente para lavar cada sujeira cometida nos últimos anos e destruir as bases políticas construídas pela Odebrecht. Mas só iremos chorar quando tivermos a felicidade muito profunda de vermos Lula, o comandante máximo do esquema criminoso, numa cela em Curitiba. E certamente essa história toda precisa ser documentada em filmes, vídeos, músicas e crônicas. Mas sem Lei Rouanet ou artista pelego, por favor.

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