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A periferia é liberal e quer mais capitalismo

Uma das características dos socialistas é oferecer provas contra si mesmos, seja por meio de governos, seja por meio de discursos e livros. Eles próprios se encarregam de deixar bem claro o quanto são incompetentes, delirantes e contraditórios, muitas vezes evidenciando o quanto são incapazes de enxergar que muitos dos fenômenos sociais que eles enaltecem fazem parte, na verdade, do argumento liberal e não do discurso socialista.

Dias atrás, a Fundação Perseu Abramo (ligada ao PT) publicou o resultado de uma pesquisa encomendada por ela mesma, cuja conclusão sustenta o argumento dos liberais de que o socialismo não representa os desejos da periferia. Sobre ela, o sempre preciso Marcelo Faria já escreveu. Todavia, trago aqui outro documento publicado pela própria esquerda que ajuda a desmontar a retórica de que os moradores da periferia são coitadinhos que clamam por socialismo.

O livro Um País Chamado Favela, de 2014, escrito por Renato Meirelles e Celso Athayde.

Não perderei o meu tempo falando sobre as primeiras 25 páginas (o livro tem 167) dedicadas à tentativa de implantar no leitor adjetivos elogiosos ao livro antes mesmo da leitura, nem me aprofundarei nas apresentações assinadas por “grandes intelectuais brasileiros” como Preto Zezé, MV Bill e… Luciano Huck! Também não perderei tempo enumerando as distorções na leitura da história recente do Brasil. Focarei nas estatísticas que os autores oferecem.

Resumidamente, para 96% dos moradores das 63 comunidades pesquisadas, NÃO foram as políticas públicas que melhoraram a qualidade de vida. Para 14%, a família foi a causa; para 40%, foi Deus o responsável; e, para 42%, a melhoria de suas vidas foi obra tão somente do próprio esforço, ou seja, aquilo que os liberais gritam todos os dias – a potência do indivíduo!

Além de dados, a pesquisa que gerou o livro também oferece relatos de empreendedorismo dentro de comunidades, sem relação com as ações estatais, salientando que foi justamente a distância dos indivíduos em relação ao governo que tornou os primeiros fortes e criativos. “Os jovens, em particular, são filhos e netos daqueles cidadãos abandonados e maltratados pelo estado. Criados a partir dessa memória familiar recente, não enxergam o governo, qualquer que seja, como provedor de bem-estar. Não raro treinados em modelos espartanos de sobrevivência, convertem-se em homens e mulheres particularmente resilientes que aprendem, enfrentam preconceitos e fazem acontecer”, escrevem os autores. O que pode ser mais libertário do que isso?

A despeito dos dados e testemunhos que comprovam que o morador da periferia não é nenhum incapaz, os autores se esforçam em tentar nos fazer crer que a melhoria na qualidade de vida na periferia foi obra do PT, chegando a afirmar, por exemplo, que seus moradores só puderam planejar melhor suas vidas quando começaram a receber contracheques impressos. Segundo eles, não foi o fim da inflação e a estabilidade econômica que possibilitou que pessoas de baixa renda tivessem acesso ao crédito, mas sim um pedaço de papel.

Num dos capítulos, Renato Meirelles assume a narrativa para falar sobre a trajetória de seu parceiro, Celso Athayde, começando com a seguinte frase: “Ele não aprendeu com Keynes ou com Amartya Sen, mas com a vida, tocando pequenos negócios no vasto universo de excluídos e daqueles em processo de inclusão”. Sim, ele cita dois gurus do socialismo para ilustrar a trajetória liberal de uma pessoa que abre caminho sozinho na sociedade e que, voluntariamente, direciona seu trabalho para os interesses da periferia, explicitando, portanto, que os socialistas não conseguem sequer distinguir socialismo de liberalismo. Darei um ajuda: oferecer seu tempo, seu trabalho, seu dinheiro ou apenas seu interesse à periferia não torna uma pessoa socialista. Uma pessoa se torna socialista quando ela passa a cobrar que o estado obrigue outras pessoas a fazer caridade, exigindo que os mais ricos, apenas por serem mais ricos, devam aceitar que o governo lhes tome o dinheiro para supostamente dar aos menos favorecidos – e o recurso acabar indo para o bolso de políticos e burocratas.

A trajetória de Athayde, relatada por Renato, culmina na criação da Favela Holding, iniciativa responsável pela criação de um shopping center dentro do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, um empreendimento de R$ 22 milhões. Os autores desconhecessem que isso se chama iniciativa privada e voluntária, o pilar do liberalismo. Ignoram que qualquer iniciativa desse tipo, se fosse empenhada pelo estado, custaria 10 vezes mais e ofereceria serviços ruins. Ignoram que o sucesso de empreendimentos como os citados no livro se deve principalmente por serem iniciativas de pessoas comuns e que, por isso, têm mais condições de saber o que pessoas comuns precisam – o que o estado nunca conseguirá saber.

Há também outros casos, como o de Elias Tergilene, que começou a vida vendendo esterco e que hoje tem diversos empreendimentos comerciais em regiões degradadas de Belo Horizonte. A despeito do discurso “social”, Elias pensou de forma empreendedora, o que lhe possibilitou descobrir um novo nicho de mercado. Ele foi obrigado pelo governo a investir seu trabalho e dinheiro na periferia? Não. Foi ele, por iniciativa própria, que enxergou as oportunidades comerciais que essas regiões guardam e que criou um modelo de negócio adequado ao perfil de seus moradores. Isso não é socialismo. Isso é capitalismo! Em vez de esperar pela ajuda do estado, o indivíduo tratou de, ele mesmo, fazer o que acreditava que deveria fazer. Iniciativa privada! A mesma iniciativa privada da Vai Voando, empresa de venda de passagens aérea que, a exemplo de Elias, costurou um modelo próprio de negócios que, visando o lucro, possibilitou que dezenas de milhares de pessoas tivessem oportunidade de viajar de avião. Foi o estado que obrigou essa empresa a oferecer produtos e serviços mais baratos aos moradores da periferia? Não!

Reconhecendo o potencial da periferia, os autores chegam a escrever: “Ali, portanto, por necessidade e vocação, funcionam alguns dos melhores laboratórios do país em termos de prática empreendedora”. Quando um liberal fala isso, ele é taxado de maluco: “impossível um morador da periferia se erguer sozinho!”, gritam os socialistas. Porém, quando são os próprios socialistas que atestam essa realidade, a pobreza deixa de ser vista como condenação e passa a ser vista como situação reversível a partir do conjunto de esforços individuais. O erro está na insistência dos socialistas em pregar que o estado deveria ajudar os esforços individuais. Não! Todas as vezes que o estado estende sua mão, ele retira do indivíduo a necessidade de ser forte e criativo, empurrando-o na direção da dependência e da subserviência. Qualquer ação de caridade deve vir de indivíduos, nunca do estado. Como esclareci em artigos anteriores, apenas pessoas − espontaneamente associadas entre si ou não − têm condições de avaliar a necessidade e o merecimento de outras pessoas e de acompanhar os desdobramentos de cada ação. O estado não tem esta condição.

Outra passagem interessante do livro é aquela em que os autores citam a solução encontrada pelos salões de beleza quando o governo restringiu o funcionamento dos bailes funk. “A solução foi diversificar os serviços. Quem fazia chapinha passou a oferecer também depilação. Aos poucos, as melhores profissionais venceram a crise e passaram a colecionar também clientes do asfalto, gente moradora de Laranjeiras ou da Gávea”. E ainda há quem diga que o mercado não se autorregula e não tem capacidade de resolver os problemas.

O livro também nos mostra o ponto de vista dos consumidores da periferia, desfazendo a imagem de “coitadinhos humildes” que os socialistas pintam constantemente. Os moradores da periferia calculam o custo-benefício de tudo: muitas vezes optam pelos produtos mais caros e têm especial prazer em ostentar marcas famosas por reconhecerem o valor agregado de seus produtos. Os dados expostos no livro comprovam que o desapego material e a busca pela vida simples não passa de um fetiche existencial da burguesia socialista. O morador da periferia quer ser patrão, independente, gosta de luxo e quer passar férias nos Estados Unidos, não em Cuba!

Vale ressaltar também que o morador da periferia só tem o poder de escolher o que consumir porque existe uma complexa rede de interesses individuais que sustentam incontáveis empresas que brigam entre si pela preferência de todos, incluindo dos moradores da periferia.

Sem perceber, os autores reconhecem que, enquanto a “benevolência” do estado não chega à periferia, o “capitalismo opressor” sobe o morro com farmácias, supermercados, serviços de internet e TV a cabo, eletrodomésticos, computadores, celulares e material de construção. Os autores do livro chegam a registrar casos de multinacionais como a P&C, que, voluntariamente, vão à periferia oferecer produtos e serviços gratuitos como estratégia de divulgação de suas marcas. Malditos capitalistas!

A infelicidade do livro é a insistente interpretação ideológica da realidade, tentando nos fazer crer que a periferia precisa de estado, muito estado, estado em tudo; e que essas comunidades devem ser protegidas, vejam só, dos interesses dos capitalistas!

A pesquisa feita pela fundação petista e este livro mostram que os socialistas têm um sério problema em reconhecer a potência humana e fazem questão de não enxergar que o único papel que o estado assume é o de tornar a vida das pessoas mais cara, complicada e perigosa.

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