“Contra a direita e por mais direitos”. Em qualquer manifestação, protesto, site, assembleia ou convenção de esquerda a pauta será sempre a mesma: “lutamos por direitos”. Mas que direitos?
Para os liberais, direitos são aquelas coisas (e somente elas) com as quais todos nós nascemos, e independem de reconhecimento por qualquer poder constituído. Assim, você tem direito à vida. Tem direito à liberdade. Tem direito à propriedade. Tem direito ao fruto do seu trabalho. Tem direito de se expressar, de cultuar os deuses que quiser, ou de não cultuar deus nenhum. Você não pode negar esses direitos ao próximo sem negá-los a si próprio. E eles implicam um comportamento negativo de uns em relação a outros: não matar, não cercear, não roubar, não censurar.
Dentro da ciência política, esses direitos passaram a ser denominados “direitos de primeira dimensão”. Mas há uns 150 anos começaram a falar em direitos de “segunda dimensão”, ou “direitos sociais”, e a coisa começou a complicar. Porque esses direitos de segunda geração (ou terceira, quarta e já há quem afirme a existência da quinta geração) não pressupõem comportamento negativo dos outros, e sim um positivo: eles não defluem da sua condição de pessoa humana, mas existem apenas e desde que alguém os anote num pedaço de papel e confira a eles o elemento da coerção (já que esses “direitos” dependem, para sua existência, de se obrigar alguém a fazer algo contra sua vontade – ou seja, não livremente, mediante coação).
Você tem direito a um emprego, independentemente de suas habilidades? Tem direito a um aumento de salário, independentemente de sua produtividade? Tem direito a confiscar uma parte do trabalho de outrem para garantir o seu atendimento médico? Tem direito a gozar de ensino superior pago pelo contribuinte (mesmo que você seja mais rico que a grande maioria dos contribuintes que o financiam)? Tem direito a se aposentar sem ter poupado? Tem direito a usar transporte público sem pagar pela tarifa?
Esses “direitos”, que a esquerda defende, são na verdade privilégios, que nada mais são que vantagens atribuídas a uma pessoa ou grupo de pessoas em detrimento dos demais. O meu direito à vida não tolhe o direito à vida de mais ninguém (ao contrário, o reforça), mas o seu pretenso direito a educação pública superior gratuita avança sobre o meu trabalho, e o seu pretenso direito a andar de ônibus sem pagar (ou pagando apenas uma fração do valor justo) avança sobre o meu direito a propriedade.
Prova de que tais direitos são na verdade privilégios de grupos, categorias ou classes é que não existem associações para defender o direito universal à vida, à liberdade ou à propriedade (porque seriam desnecessárias) como existe um Movimento Passe Livre, uma Associação Brasileira dos Aposentados e Pensionistas, um Movimento dos Sem Terra ou Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, uma União Nacional dos Estudantes, o Femen ou qualquer Central Sindical. Pessoas se agrupam não para defender direitos universais (dos quais elas já se sabem detentoras), mas para obrigar outras pessoas a fazer algo que elas não fariam livremente – é a minoria ruidosa (e altamente organizada) prevalecendo em face da maioria silenciosa (e que está ocupada demais cuidando da própria vida pra se organizar em torno de qualquer causa ou pauta).
É por isso que as esquerdas são ontologicamente incompatíveis com os conceitos de liberdade e democracia: é impossível defender privilégios reafirmando a força do estado contra o indivíduo em nome de uma coletividade que sequer é a maioria, mas apenas uma minoria politicamente organizada, e ao mesmo tempo achar que esse indivíduo é livre. A minoria organizada, para impor seus pretensos direitos de segunda ou terceira dimensão, revoga os direitos de primeira dimensão de uma gigantesca coletividade indeterminada (porque tanto aqui no Brasil quanto em qualquer lugar do planeta, quem paga mais imposto é o pobre, não o rico). No fim, não existe nada mais elitizado e reacionário que um progressista.