A grande mazela do ensino brasileiro é a sua falta de qualificação mínima na educação básica. O problema é grave, persistente e já começa na alfabetização das crianças. Alcançamos o fracasso fruto, dentre outros fatores, da aplicação hegemônica de metodologias de ensino chamadas de socioconstrutivismo ou linguagem global, e da implementação da pedagogia do oprimido na formação dos nossos docentes.
Segundo o MEC, por meio da Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA-2014), há presença endêmica de analfabetismo escolar no sistema de ensino nacional. O teste constatou que somente 11,2% dos estudantes brasileiros de 3º ano do ensino fundamental alcançaram uma proficiência adequada em leitura. Na região Norte, esse número é de apenas 5%; no Nordeste, de 6%; e no Centro-Oeste, de 10%. Até mesmo nas regiões mais desenvolvidas do país a situação é grave: no Sudeste, 17% dos alunos apresentaram um desempenho adequado no teste de leitura e no Sul do país, 14% das crianças foram alfabetizados adequadamente.
Há explicações sobre tal fracasso escolar. Segundo o excelente relatório de divulgação científica, produzido no âmbito da Comissão de Educação da Câmara Federal, em 2003, primeiro ano do governo Lula, intitulado Grupo de Trabalho Alfabetização Infantil: Os Novos Caminhos: “o problema é que uma postura eminentemente política ou ideológica levou, em diversos países, e continua levando, no Brasil, a uma rejeição de evidências objetivas e científicas sobre como as crianças aprendem a ler”.
O neurocientista americano Steven Pinker afirma, em seu livro Como a Mente Funciona, que “lamentavelmente, a mesma história está se repetindo no ensino de leitura nos Estados Unidos. Na técnica dominante, denominada ‘linguagem global’, a percepção de que a linguagem é um instinto humano que se desenvolve naturalmente foi deturpada, transformando-se na afirmação evolutivamente improvável de que a leitura é um instinto humano que se desenvolve naturalmente. A antiquada prática de ligar letras a sons é substituída por um ambiente social rico em textos, e as crianças não aprendem a ler.”
Não levar a sério recomendações científicas explica, em parte, as razões do nosso fracasso educacional. O método socioconstrutivista continua hegemônico e causando estragos. Associa-se ao problema, agravando-o, a forte presença de ideologias na formação dos professores. O maior exemplo é a utilização de Paulo Freire na formação do magistério. É um autor aclamado e idolatrado pela esquerda, mas pouco lido com isenção necessária.
Paulo Freire foi apenas um prosélito do movimento comunista/socialista latino-americano. Porém, foi incensado como o grande pedagogo brasileiro. Ele se preocupou, sobretudo, com o desenrolar de uma revolução socialista e não com uma pedagogia técnica ou científica. Via a escola e o povo, pobre e analfabeto, como instrumentos dessa revolução. Em sua Pedagogia da Autonomia, afirmou seus objetivos: “Ensinar exige reconhecer que a educação é ideológica. (…) A capacidade de penumbrar a realidade, de nos miopizar, de nos ensurdecer que tem a ideologia faz, por exemplo, a muitos de nós, aceitar docilmente o discurso cinicamente fatalista neo-liberal que proclama ser o desemprego no mundo uma desgraça do fim do século. Ou que os sonhos morreram e que o válido hoje é o pragmatismo pedagógico, é o treino técnico-científico do educando e não sua formação de que já não se fala.”
A confissão também é constatada em seu principal livro, A Pedagogia da Oprimido: “a nossa preocupação, neste trabalho, é apenas apresentar alguns aspectos do que nos parece constituir o que vimos chamando de Pedagogia do Oprimido: aquela que tem que ser forjada com ele e não para ele, enquanto homens ou povos, na luta incessante de recuperação de sua humanidade. Pedagogia que faça da opressão e de suas causas objeto de reflexão dos oprimidos, de que resultará o seu engajamento necessário na luta por sua libertação, em que esta pedagogia se fará e refará.”
A associação do método equivocado de alfabetização e ensino ao veneno ideologizante de Freire contaminou toda a formação dos professores no Brasil e está na raiz de nossos problemas de aprendizado. É condição sine qua non para haver um ensino minimamente eficiente superar as práticas não científicas e desideologizar a formação dos professores. A qualidade só será alcançada se dermos um basta no socioconstruvismo e afastarmos as ideologias meramente políticas da formação superior do magistério nacional. Sem isso, nada mudará o quadro lamentável do ensino brasileiro.