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É possível ser socialista de iPhone sem ser hipócrita?

É muito comum, principalmente agora em tempos de redes sociais, esquerdistas vociferarem suas ideologias jurássicas por meio de seus iPhones enquanto vestem tênis da Adidas, camisetas da Abercrombie e vestidos da Zara. Na invasão à reitoria da PUC em 2011, um manifestante tornou-se emblemático por liderar uma manada de estudantes enquanto ostentava no peito um moletom azul da GAP. A própria deputada comunista Manoela D’Avila foi flagrada algumas vezes vestindo bolsas de grifes caras. Os esquerdistas estão intitulados a vestirem roupas de grifes caras sem cometerem nenhum tipo de hipocrisia, ou uma coisa simplesmente não tem nada a ver com a outra?

O maior argumento apresentado pelos esquerdistas para “justificar” tal incongruência é uma citação de Karl Marx: “se a classe operária tudo produz, a ela tudo pertence”. Tal argumento funcionaria supostamente como um trunfo que permite que todos os esquerdistas continuem vivendo suas vidas exatamente como sempre viveram: comprando roupas de grifes caras na loja mais próxima e comparando a realidade palpável com a realidade impossível que nunca existiu nem nunca existirá. Porém, mesmo que tal argumento estivesse correto (e não está), ainda assim, há algumas questões a serem respondidas.

A primeira delas é questão organizacional. Vamos supor que pertence à classe operária tudo aquilo que ela produz, exatamente como disse Karl Marx. Isto implicaria na tomada de posse à força de tudo aquilo que foi produzido pela classe operária: iPhones, tablets, bolsas de grifes caras. Depois de tudo tomado, quem senão alguém preocupado com o lucro para disponibilizar de seu tempo e de seu esforço para remontar o que foi tomado e produzir novamente tudo aquilo que a classe operária produz? E mais: agora preocupado com a própria ontologia de “tudo”. Quem senão o capital e o seu conhecimento disperso para reunir de fato as maquinarias, as esteiras, os materiais, os transportes, o SAC e o CRM para produzir tudo o que já foi produzido?

A segunda delas, e agora tratando do argumento, propriamente dito,  é a questão interpretativa (ou imaginativa). Karl Marx jamais disse que esquerdistas jurássicos poderiam ir às compras blindados pelo amor platônico à luta de classes. Ele se referia à tomada à força de tudo aquilo que foi produzido pela classe operária, e depois à – suposta – redistribuição daquilo que foi tomado. Segundo ele, se ela tudo produz, a ela tudo pertence, por direito, não por aquisição (!). Se os esquerdistas tivessem ao menos respeito pelo seu próprio “evangelho”, eles entenderiam que o próprio texto que eles utilizam como trunfo não resiste nem aos crivos lógicos dele mesmos ou do próprio autor. A menos que os esquerdistas sejam hippies que produzem suas próprias roupas – e não há problema algum nisso – eles não podem vestir as roupas ou utilizar os smartphones produzidos pelo sistema capitalista sem incorrerem uma profunda hipocrisia, geralmente “justificada” por meio de alguma aberração lógica.

Na realidade, o fato da esquerda adorar os melhores bens capitalistas prova exatamente que é impossível produzir qualquer sem o conhecimento disperso, sem o cálculo de preços ou sem algum indivíduo preocupado com o lucro que disponibilize seu tempo e esforço para organizar a produção. E, se caso alguma multinacional comece a operar sem utilizar pelo menos um desses fatores, eu assumo que estou errado e compro na próxima esquina um moletom azul da GAP. Com um bolso especial pro iPhone, claro.

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