A crítica é uma tarefa ingrata mas necessária para a melhoria continua. Existe no âmbito das relações de opinião dois caminhos: as verdades desagradáveis e as mentiras reconfortantes. Não me sentiria bem em falar mentiras reconfortantes porque bem, elas são mentiras. No bom estilo Forrest Gump, que diz que idiota é quem faz idiotice, não irei voluntariamente à posição de mentiroso. Principalmente, ao fazer críticas (construtivas ao meu ver) a Rodrigo Constantino.
Em seus vários anos de, reconhecidamente, expoente do liberalismo brasileiro contemporâneo, Constantino oscilou muitas vezes. Brigou com Olavo de Carvalho, fizeram as pazes, brigaram novamente; criticou Jair Bolsonaro, foi atacado pela horda de fãs do deputado, fez artigos bondosos; foi questionado se “dá bilhão”, mostrou anos depois que dava muitos bilhões. Um formador de opinião tem de vender opinião. O problema é quando ele começa a mudar de opinião quase mensalmente.
O presidente do conselho deliberativo do Instituto “Liberal” (IL), cujo nome já deveria ter sido trocado para Instituto Conservador (IC) por conta da “fenomenal” e “curiosa” guinada ao Conservadorismo, sabe que a população brasileira demanda um combate forte ao progressismo. O crescimento de candidatos populares, liberais ou não, traz a oportunidade de tornar o seu think-tank uma espécie de apoiador das políticas econômicas de um eventual eleito nas próximas eleições. A mudança recente nos quadros de colaboradores do Instituto com a saída de liberais e entrada de pessoas alinhadas ao PSC mostra essa intenção. O fusionismo é a palavra do dia nos lados do IC.
Decisões à parte, Rodrigo fez da sua cruzada anti-estatista a porta de entrada do liberalismo para muitas pessoas, conseguiu muitos leitores e seguidores, inclusive este que escreve. Ajudou também na popularização do Partido Novo, cujas ideias são uma ilha de liberdade no mar de partidos vermelhos brasileiros. Entretanto, Constantino tem recorrido cada vez mais ao que se chama de “falácia do escocês”. Muito mais comum em debates sobre religião, ela diz a respeito da retirada de determinada pessoa de um grupo a partir de uma dita contradição que ela comete.
Exemplo:
A: “Todo conservador não usa drogas”.
B: “Ora, mas eu conheço um conservador que usa drogas”.
A: “Ah, mas esse não é um verdadeiro conservador”.
Rodrigo recentemente lançou um curso chamado “salvando o liberalismo dos liberais” colocando esquerdistas (do termo “liberal” americano) no mesmo saco de libertários, mesmo sabendo que não existe liberdade individual sem liberdade econômica e criando assim uma falsa dicotomia onde “todos que não são liberais como eu, não são liberais”. Quem então escolhe quem é liberal e quem não é? Existe um ente central emissor de certidões de adeptos da liberdade? Sou liberal e defendo tão somente a vida, a liberdade e a propriedade sob a ótica que ninguém pode iniciar agressão contra uma pessoa que não tenha agredido. Defendo a paz, a justiça e os direitos naturais, necessários a convivência em sociedade. Sabendo o que defendo, não preciso de opiniões alheias para me qualificar como liberal.
Exatamente essas são as pautas defendidas pelo ex-Senador Ron Paul, admirado e conhecido dos libertários e um candidato outsider nas últimas corridas presidenciais americanas. Recentemente, Constantino se desligou totalmente do único atual representante da ideia dos pais fundadores dos Estados Unidos em prol dos conservadores, alterando a tradução de uma fala de Ron Paul para taxá-lo (e a todos os libertários) de “idiotas úteis” da esquerda, quando Ron Paul claramente não defende o candidato socialista – muito pelo contrário, já fez diversos artigos indo contra a lógica pregada do mesmo. Assim, inventa a falácia “vejam como os libertários são iguais aos esquerdistas”, deixando convenientemente de lado a defesa da paz, o repúdio ao intervencionismo e o respeito que o congressista americano sempre teve como norte.
Adam Smith era escocês, mas duvido que usasse o recurso retórico da “falácia do escocês” tanto quanto Rodrigo Constantino nos últimos tempos.