Nos últimos anos o movimento pró-liberdade no Brasil não para de crescer e você com certeza já deve ter visto pautas liberais nas últimas manifestações. Em sua grande maioria, essas pautas são voltadas para o conceito de liberdade econômica, fazendo com que esta questão, de certo modo, sobreponha uma das pautas liberais mais importantes da história: a liberdade individual.
É fato que liberdade econômica está fortemente atrelada à liberdade individual, afinal, quanto maior o poder econômico que um indivíduo tem, mais livre ele será para realizar suas vontades e desejos, contanto que respeite as liberdades daqueles que também são detentores deste poder. Esta é, sem dúvida, uma das grandes contradições da esquerda brasileira e internacional: teoricamente defender as liberdades individuais e não compreender que ela somente é possível com liberdade econômica. Afinal, o fato de você poder ser e fazer o que quiser não passará de uma ilusão caso haja uma dúzia de burocratas controlando a fonte material deste poder: a economia.
Enquanto políticos controlarem o setor produtivo, o cidadão nunca será senhor de sua própria existência, tendo que enfrentar não apenas as circunstâncias adversas da vida mas também os caprichos de políticos que se autodenominam a fonte da sabedoria humana e a esperança das reinvindicações das massas, não importando quão absurdas elas possam ser. Sem dúvida precisamos de mais liberdade econômica, precisamos sair daquela incômoda 122ª posição de no ranking da Heritage Foundation, atrás de “potências” como Quénia, Gambia, Mali e Tunísia, entre outros, o que deveria nos envergonhar mais do que qualquer 7 a 1.
Precisamos aprender mais com o Chile, a Estônia, a Irlanda e outros países que têm tido sucesso em transformar suas realidades e se aproximar daquilo que se pode chamar de “mundo desenvolvido”. Mas como proceder? Como fazer com que isto se torne realidade? Será que bastaria abrir a economia e, tcharam, chegamos com tudo no baile dos campeões? Definitivamente, não.
O que diferencia um texano de um grego? Você poderia pensar na diferença entre uma família trabalhando em uma fazenda cuidando de gado e plantações e uma família trabalhando em um restaurante, falando alto e servindo delícias mediterrâneas cheias de azeite, queijos e frutos do mar. Mas a diferença fundamental dessas duas regiões não vem de suas vocações produtivas e sim de algo que está além do trabalho manual, algo que habita o íntimo de cada indivíduo: a cultura de liberdade.
De um lado temos uma potência econômica incansável onde o empreendedorismo não é só meio de sobrevivência, mas uma aspiração moral que deve ser protegida e preservada com unhas e dentes, com uma história de glória e ascensão de uma região tropical de um lado e desértica do outro, sendo o destino de milhares de trabalhadores qualificados e não qualificados do mundo inteiro ano após ano, com a previsão de dobrar sua população até 2050. O Texas simplesmente não para e isso não se deve à ação de políticos e nem exclusivamente às suas fontes de petróleo. Esta máquina de geração de riqueza e empregos é resultado de uma tradição de liberdade econômica e individual tão enraizada no estilo de vida da população que fica até difícil encontrar qualquer sintoma de declínio em sua estrutura.
Por outro lado temos os gregos, herdeiros de uma cultura tão preciosa que muito nos faz lamentar a situação econômica que enfrentam neste momento. A Grécia poderia ter um filósofo como seu primeiro-ministro, como sugeriu Platão, mas nada adiantaria um governante sábio sem uma cultura que respondesse aos ditames da sabedoria. A política econômica grega é o reflexo da cultura de sua população que, assim como em grande parte dos países mediterrâneos e latino-americanos, quer muito ao mesmo tempo em que oferece pouco, direcionando suas aspirações à crença em um estado positivista que corrigirá todas as imperfeições sociais e conduzirá a nação a um novo patamar de paz e estabilidade econômica. Mera ilusão. Colocar-se contra a ordem espontânea e depositar as esperanças no aparato estatal é o mesmo que abrir a porta para o declínio social, resultando no cerceamento das liberdades individuais e na destruição gradual de tudo que qualquer mente esclarecida consideraria saudável para o desenvolvimento de determinada região, independente de sua cultura, história ou posicionamento geopolítico.
Para transformar o Brasil em um país admirado, precisamos reformar também os indivíduos, trazendo-os à sua verdadeira essência, aquela que conduz ao desenvolvimento das artes, da ciência, da literatura e da economia. Precisamos reformar a cultura, mostrando porque a liberdade vale a pena. Mas não faremos isso como Antonio Gramsci propôs, afinal, não somos donos de ninguém para impor nossos ideais a força, manipulando informações e destruindo aquilo que os seres-humanos têm de melhor: a individualidade. Faremos isso apenas mostrando a verdade, exibindo a implacável lógica daquilo que funciona e daquilo que não funciona, transformando nossas ideias em algo que merece a confiança das pessoas e percebendo como que, aos poucos, o ideal da liberdade ocupará seu lugar no aparato estatal, representando a demanda que partirá das mais diversas regiões do país, desde a capital econômica São Paulo até às realidades mais longínquas de nosso território.
Sem reforma cultural não há reforma liberal: chegou a hora do liberalismo cultural.