A única fábrica socialista do Brasil fechou há 22 dias. O motivo? Falta de pagamento da conta de energia elétrica, fundamental para produzir os tambores plásticos na Flaskô, “ocupada” pelos trabalhadores há 14 anos desde que a antiga administração decretou falência.
A organização “somente para o interesse dos patrões” que deu lugar à uma “reorganização de acordo com os interesses da classe, sem exploração”, como mencionado em manifesto feito pelos operários, começou com 300 pessoas, mas atualmente conta com 67. Afundada em dívidas (mais de R$ 120 milhões), os operários estão sem salários desde 7 de março, e parte da força de trabalho também está sem vale transporte e alimentação. A CPFL, responsável pelo fornecimento de energia na cidade de Sumaré-SP, onde se encontra a fábrica socialista, não recebe desde agosto de 2016 o pagamento pelas parcelas negociadas de contas passadas de energia elétrica, o que fez a dívida da empresa aumentar ainda mais.
Até agora, já ocorreram mais de 220 leilões de máquinas e pedidos de penhora de bens da empresa para pagar dívidas passadas. Os operários são citados nas diversas ações movidas contra a empresa, na medida em que todas as dívidas foram passadas aos novos administradores. Das 40 máquinas que operavam, restam apenas 6, que, de tão sucateadas, fazem o serviço de 3 máquinas.
Na fábrica foi aplicada a “redução da jornada de trabalho sem redução salarial”, passando o período laboral de 44 horas semanais para 30 horas. Todas as decisões da fábrica passam por um conselho de 11 membros com representantes de diferentes turnos e setores para ampliar a representatividade. Assembleias gerais são feitas para prestação de contas e sempre há um pedido de assembleia extraordinária. Nada disso, entretanto, ajudou a empresa a pagar suas dívidas e ampliar a produção, pelo contrário: o turno noturno foi extinto para economizar energia e o faturamento da empresa segue caindo.
Para salvar a empresa, os operários resolveram fazer um pedido de estatização, encaminhado ao Senado em 2012, onde milhões de pagadores de impostos assumiriam as dívidas de empresa enquanto os operários continuaram sendo responsáveis pela administração da fábrica. Até o momento, o projeto sequer tem designação de relator na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado.
De acordo com manifesto no site oficial da ocupação, os operários da fábrica defendem que “fábrica quebrada é fábrica ocupada, e fábrica ocupada deve ser estatizada e colocada sob controle dos trabalhadores”. O mesmo manifesto menciona que a empresa é uma “fábrica resistindo contra o capitalismo” que mantém “a defesa das pautas históricas da classe trabalhadora em direção ao socialismo”. O local chegou a sediar o “Acampamento Revolucionário da Juventude” e também publica textos em defesa das ditaduras de Cuba e Venezuela em seu site oficial.
A Flaskô é a única fábrica socialista que permanece em funcionamento no Brasil. Outras empresas na mesma situação já fecharam as portas. Em Joinvile (SC), a Cipla e a Interfibra seguiram nos mesmos moldes, até a justiça nomear um interventor especialista em recuperações judiciais e falências para comandar as empresas.