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Bolsonaro, coronavírus e a falácia da empatia

Nesta terça-feira, 7 de julho, foi anunciado que o presidente Jair Bolsonaro teria testado positivo para Covid-19, com o exame feito após ele ter sentido dores no corpo e ter tido uma febre de 38 graus. O exame ainda não foi apresentado ao público, mas o presidente alega que testou positivo.

Diante de tal anúncio, a tropa bolsonarista lançou sua nova narrativa. O presidente Bolsonaro já se pronunciou alegando estar melhor e que ficou assim após se tratar com a hidroxicloroquina, um medicamento que é taxado de milagroso pelos apoiadores do presidente, mas que até o exato momento os melhores estudos sobre o remédio não apontaram qualquer evidência ou efeito benéfico que o mesmo possa ter no combate ao Covid-19. Bolsonaro chegou até mesmo a afirmar que o tal medicamento, caso seja usado nas fases iniciais tem chances de sucesso de quase 100%. A base para tal afirmação? Nenhuma.

O presidente e seus apoiadores usaram o caso para fazer propaganda pesada da hidroxicloroquina e outros medicamentos que também carecem de evidência científica, como é o caso da ivermectina.

As atitudes do presidente levantaram diversas suspeitas, muitos duvidam que ele esteja de fato com a doença, outros alegam até que ele fez esse anúncio apenas para poder fazer propaganda da hidroxicloroquina.

Não entrarei no mérito se tais acusações são verdadeiras ou falsas, partirei da premissa de que o presidente de fato está contaminado, apesar de realmente ser suspeita a atitude do presidente.

Após tais suspeitas serem levantadas, a cúpula bolsonarista levantou uma nova narrativa, a de que os críticos do presidente são seres sem empatia, que torcem pela morte do mesmo. O blogueiro Bernardo Küster chegou até mesmo a fazer uma acusação extremamente irresponsável no Twitter, alegando até mesmo que parte da grande mídia torceu pelo “sucesso da facada” que o presidente sofreu durante o processo eleitoral de 2018. Tal acusação é simplesmente algo que o acusador não é capaz de provar, naquela época não saiu nenhuma matéria na grande mídia comemorando o ocorrido, trata-se apenas de mais uma acusação falsa com o intuito de fortalecer uma narrativa anti-imprensa.

Outro que também se pronunciou foi o filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, que fez postagens no Twitter criticando o artigo publicado pelo colunista Hélio Schwartsman na Folha de SP, artigo esse intitulado como “Por que torço para que Bolsonaro morra”. Esse artigo caiu como uma luva para a base do presidente que passou o dia cobrando empatia e alegando que a grande mídia (como se a opinião de um colunista representasse toda a imprensa) deseja a morte do presidente. Jair Bolsonaro já se pronunciou, junto com o Ministro da Justiça André Mendonça, alegando a requisição de uma abertura de inquérito à Polícia Federal por suposta violação à Lei de Segurança Nacional, uma clara tentativa de censurar o colunista.

Bolsonaristas também criticaram duramente humoristas como Danilo Gentili e Maurício Meirelles pelo mero fato de fazerem piada com o caso. Independente da piada ter sido ou não apropriada, o Maurício apontou para uma questão interessante, os ditos bolsonaristas que posavam de “politicamente incorretos” são tão politicamente corretos quanto os esquerdistas de outrora, querendo a todo custo censurar piadas e cercear a liberdade de humoristas que zombam do presidente. Não diferenciam em nada da lista negra que o PT fez em 2014 listando jornalistas e humoristas que criticavam a presidente Dilma.

O artigo do Schwartsman é de fato reprovável e serviu para fortalecer a narrativa bolsonarista, mas há algo curioso nessa discussão: ela serviu para levantar a falácia da empatia.

Os mesmos bolsonaristas que meses atrás faziam dancinha caçoando de milhares de vítimas do Covid-19, hoje exigem respeito e empatia.

O filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, que hoje pede empatia, é o mesmo que há 1 mês escarnecia e comemorava o fato de que sua desafeta e ex-amiga Joice Hasselmann teria contraído a doença.

Vale lembrar que diversos profissionais de saúde e jornalistas foram fisicamente agredidos por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro e isso se deve ao mero fato de defenderem medidas de prevenção ao vírus.

O próprio presidente apoiou, participou e incentivou manifestações em plena pandemia, sendo aglomeração uma das principais formas de difusão do vírus. O Brasil é hoje um dos únicos países em que o próprio Presidente da República incentiva sua população a se aglomerar, gerando assim mais infectados e consequentemente mais óbitos. Além do fato do presidente ter participado de tais atos até mesmo sem fazer uso de máscara.

O mesmo presidente coleciona uma série de afirmações irresponsáveis em relação a pandemia, declarações que ofendem milhares de vítimas e famílias que perderam seus pais, filhos, maridos e esposas para aquela que já é a maior pandemia do século 21.

No dia 20 de abril desse ano, quando registrávamos apenas 2500 mortes por conta do vírus, o presidente ao ser questionado disse: “não sou coveiro, tá?”

No dia 28 de abril quando registramos 5000 mortes o presidente falou: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Sou Messias, mas não faço milagre”.

Hoje, após todo tipo de negacionismo proferido, temos 66 mil óbitos e ainda sofrendo com a subnotificação, com um presidente que tentou a todo custo ocultar os próprios dados da população, e somos um dos piores países do mundo no combate ao vírus, sendo criticados publicamente pelo próprio presidente dos Estados Unidos Donald Trump.

Diante de tudo isso, fica evidente que não há preocupação bolsonarista com a empatia: nunca empáticos com os milhares de óbitos que tivemos (agravados pelo discurso negacionista), zombaram de pessoas que morreram por conta da doença, agrediram enfermeiros e jornalistas, tentaram ocultar o número de mortes e inventaram inúmeras mentiras sobre caixões vazios e sobre o uso de máscaras. Hoje fingem querer empatia, fingem pregar amor e compaixão, mas esse pedido por empatia serve apenas para mascarar sua hipocrisia e um desejo claro de censurar os seus opositores, sejam os jornalistas ou os humoristas.

No mais, ao contrário do filho do presidente, não comemoro quando adversários são vítimas dessa doença cruel e fatal, que só traz desgraça ao nosso país. Torço para que o presidente se recupere e repense sobre a forma como lidou e lida com milhares de vítimas que esse país possui diariamente e como seu discurso negacionista e irresponsável está custando vidas inocentes.

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