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A foto de Ano Novo e os velhos preconceitos

Circula na internet a imagem do fotógrafo Lucas Landau retratando um menino assistindo à queima de fogos da virada do ano em Copacabana. O menino é de tez negra e está só, com uma bermuda escura, parado com água do mar até o joelho, enquanto atrás de si um grande número de pessoas de branco, boa parte de tez clara, comemora. Olha fixamente para cima, deslumbrado.

Esta fotografia passou a circular com textos maiores ou menores tecendo críticas ao racismo brasileiro, à sociedade excludente e outros sermões recheados dos clichês do politicamente correto.

Ninguém sabia nada do menino, e o próprio fotógrafo disse isso, só conhecia a idade.

Informalmente, ouvi dizer que tem família, sim, e não é de rua.

A primeira vez que vi a imagem me pareceu um menino deslumbrado com a queima de fogos, encolhido por estar molhado e com frio. Nem me ocorreu todo o drama criado pela fértil imaginação dos justiceiros sociais.

Essa foto faz emergir o verdadeiro preconceito de quem foi condicionado a ver numa criança negra a figura de um menor abandonado. Já despido de qualquer imparcialidade, esse guerreiro das mídias imprime à imagem um histórico que nunca houve, ignorando a individualidade daquele que é retratado.

E, quando confrontado com a verdade, nega-a, dizendo: “não é, mas poderia ser”.

Pouco importa que o menino tenha família e casa, que estivesse ali apenas se divertindo, em uma travessura própria de infantes. Como disse uma amiga carioca, criança vai à praia curtir a onda, não fazer brinde, nem se preocupa com roupa. Isso é coisa de adulto e, o mais das vezes, turistas. No Rio cada um se veste como quer para ir à praia.

O perigo do justiceiro social é esse, ignorar as individualidades e transformar pessoas únicas em alimento ideológico para a massa.

O racismo existe, sim, e é ainda mais recrudescido ao se criar a oposição, ao se fomentar o ódio e o justiçamento politicamente correto como se fosse amor e igualdade.

Essas visões cheias de preconceito deixam claro o perigo dessa gente de boas intenções que acredita saber o que é melhor para você e para mim, mesmo contra nossos interesses e vontades. São acusação, julgador e carrasco, com sentenças previamente lavradas esperando a oportunidade de encaixar alguém nelas e descer a guilhotina.

Nenhuma individualidade será perdoada fora do coletivo.

Esse apartar-se da realidade torna cada dia mais remota a chance de se fazer algo de concreto com relação aos problemas brasileiros. O mundo nunca irá se adequar às ideologias, que o digam os milhões de mortos para justificar as ideias de uns poucos que, por óbvio, morreram na cama, e não de fome ou num campo de concentração.

Enquanto não houver compromisso de enxergar a verdade e tratar os fatos como fatos, sem fantasiá-los para se encaixarem na lisérgica cartilha que se insiste em seguir, pessoas como o menino da foto continuarão a servir de alimento no altar de Moloch.

Conhecer os fatos deve preceder qualquer tipo de julgamento, e, quanto menos passional a visão, mais imparcial será a medida. É preciso paciência e fé para esperar coerência e compromisso com a verdade.

Por um Brasil onde meninos possam ser meninos, onde cada um possa ser quem nasceu para ser, e vestir-se como quiser, e olhar o céu como quiser, sem ser julgado por sua cor, por sua roupa ou por seu deslumbramento diante da vida.

Foto de Ano Novo do fotógrafo Lucas Landau

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