Foi-se o tempo em que a grande dúvida antes do Carnaval era se confiava na pílula ou levava uma camisinha por garantia.
A fantasia era o que o dinheiro desse: um colar de florzinha de plástico te transformava em havaiana. Dois esparadrapos na cara, em índio.
Ninguém problematizava a folia. Até porque a grande sacada do Carnaval era ser um tempo em que se podia, se não esquecer, pelo menos adiar os problemas por uns dias.
Cada um era o que quisesse: homem podia ser mulher, negro virava tirolês, mulata era cigana, loura era nega maluca. Ser pirata, normalista, odalisca, pierrô, diaba, malandro, melindrosa estava ao alcance de todos.
Isso começou a mudar de uns anos pra cá, quando se detectou que as inocentes marchinhas estavam infectadas de racismo, machismo, patriarcalismo e LGBTQQICAPF2Kfobia. Muitas acabaram banidas dos blocos mais descolados em respeito às minorias oprimidas.
Este ano, não bastassem a crise e o Crivella, a esquerda progressista, democrática e lacradora resolveu “animar” ainda mais o reinado de Momo e problematizou as fantasias.
Pense uma fantasia. Não pode.
Pense outra. Também não.
Porque você estará ofendendo as mulheres, os negros, as travestis, os ciganos, os palhaços, os índios, o diabo a quatro.
Ofende a religião, o gênero, o sobrepeso, a profissão, a orientação sexual, a ideologia.
Este ano, no que depender da esquerda, os ianomâmis não precisarão mais pedir uma sessão extra ao analista ao verem o desfile do Cacique de Ramos.
Em respeito ao lugar da fala e às suscetibilidades, devemos todos nos fantasiar de nós mesmos.
Se vir um bloco com um pessoal fantasiado de idiota, já sabe. São eles.